segunda-feira, 25 de junho de 2012

Poesia envergonhada (ou O ser & estar da tristeza)

Hoje é tempo de comer mixirica
(Ou eu quero esse tempo de volta
Por isso escrevo)

Sentar no chão da sala
Quebrar a casca laranja
E ficar um minuto arrancando a pele
De cada gomo, o caroço
Pra só depois comer
Uma mixirica (15 minutos)

(Você e o seu cheiro
Que eu não lembro
Os dois) E esta mixirica

Minha mão suja a unha
Limpo na camiseta rasgada
É o último gomo
De que forma aproveitá-lo melhor?
Ao escrever, vou tirando os fios
Brancos que embaçam o laranja de dentro
Consigo ver um caroço ali
Não sei se como de uma vez
Ou se tiro o caroço primeiro
Opto por expurgá-lo
E então já acabou a fruta

(Mas essa demora toda me angustia.)

domingo, 24 de junho de 2012

Big Bangs the Poetry

Demência com quem durmo sta' notte,
Falência múltipla neural, pois assim ordena o velho e desbotado psiquiatra!

Falésias na escuridão cansada de gavetas tortuosas,
Mongólia, minha Mongólia querida ascensão de glória femural,

Candelabros a banharem-se em cachoeiras, cacho de banana podr e frio, raízes do sol!

Dentro do útero masculino a sangrar negro em Platão fora o cúmulo em que resto a testa,
Paradigma nojento de veias adjacentes sem a principal,
Caixas de papelão em que televisores são inúteis e todo o resto a tem(e) tem por único final,

Caixas de madeira dentre as quais a minha não ainda feita, pacientemente a me aguardar, hoje ainda viva...
               Estarás madura?
Oh, caixa abatida por lenhadores barbeados, sofro tua morte!
Penso hoje em ti e sofro por antecipação nosso destino e os dos vermes em que nos tornaremos...

O osso que restará não poderá fazê-lo...

Apelo a apolo em convalescênça por bondad(e) pelos pelos que me sobrem!
Anoiteço enfermo esta rollerball,
Mereço eterno este castiçal,

Castigo os pulmões com oxigênio sem cocaína...

Negações jupiterianas de Saturno e Titã!
Lorax!
Quasares em que marés pululam,

Big                                                                                         (QÜÉ....)
    Bang,
         Eu em ti estava!
Que me importa não star aqui      (u/ui)var
                                             lo
 A não ser puro o temor daqui      pelo que mais amor tenho,
                       Que sejamos sujos tua límpida.
                                    imaginação!               .
                                           !!                        .

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Meditação sobre a distância

brega é a palavra
que a boca come
e o olho cospe
.
.
.
se a palavra lágrima não existisse
(e a lágrima só existe porque existe
a palavra) a lágrima seria o cadáver
do amor

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Redução

Meu tempo é paradoxal.

Mas talvez todos tempos sejam...

Meu tempo é tempo de recodes e de atletas imortais.

É tempo de fazer ciência. Ciência microscópica, metálica, nano-metálica, inútil.

É tempo das crianças eróticas, jovens anti-heroicos e velhos de vinte e nove anos reclamando direitos a seus privilégios...

É tempo de levantes arábicos e mil e uma noites de terror em Wall Street.

É tempo de refeudalizar a sociedade em condomínios parcelados entre inúmeros anônimos vizinhos, e de viver sozinho, enclausurado, assistindo a nuas sombras na caverna mitológica moderna de estroboscópicos pixels coloridos.

É tempo cancerígeno siliconado! Milionários no gramado e miseráveis na torcida; infâncias perdidas na Europa, nas favelas, e querelas incontáveis de uma vida atrás da bola - sabidamente vietnamita.

É tempo de multinacionais interplanetárias, de lixos sustentavelmente tóxicos a preços relativamente módicos, ainda assim, rentáveis; de destruir para construir, de guerra pela paz, de paz pela construção devastadora da liberdade capitalista, guerreira capoeirista, mera dançarina aos olhos de um senhor escravizado.

É tempo de louvar, idolatrar e desmaiar pelo medíocre. Arte porreta desdenhada desenhada na sarjeta por um bêbado acamado no cimento pela gripe, enquanto em meio a tudo isso as jóias da coroa passeiam pelo campo ornamentando foices e martelos c'ouro falso, mas maciço.

É tempo de esquerda nada direita nadar na profunda receita cleptocrata de todas boladas que leva...
E leva boladas à torta e à direita, uma xícara de propina e duas colheres de impostos salgados a gosto.
Ao forno com todos!

É tempo sem tempo de ceder um só segundo a colegas inimigos ou a amigos concorrentes. Todos concorrem neste tempo. E como correm com pressa, impacientes no trânsito lento! Matam motoqueiros, sem talento ao volante.

É tempo de ipod, ipad, icloud, ican, oh yes, we can, e de vibradores digitais com direito a rádio AM e música gospel lasciva carregada no icloud do ipad para o ipod, yes we can, yes we can, yes we can!
Sim, a gente pode protestar aos surdos na Paulista pelos curdos, pela derrubada democrática de um governo ladrão, estuprador e carinhoso, embora ninguém o faça e poucos saibam quem são os curdos...

É tempo do progressista ultrapassado, do machismo feminista malogrado e de engatinhar em passeatas a debater o óbvio e interesses pessoais.  Da pequena batalha, que não é batalha, pela maconha, pelo aborto, pelo filho morto no iraque ou no leblon. Da negação de uma luta verdadeira contra o terno e seu recheio, romarias partindo do Rio a São Paulo a BH até Brasília, nossa inversa bastilha de criminosos livres cuja merecida residência é o presídio superpovoado interiorano; ou o esgoto mesmo.

É tempo dos museus abandonados, dos shoppings e mercados do freguês que o abarrota, se abarrota de mercadorias e tromba sem olhar para trás ou pedir desculpas ao criado.

É tempo em que não se escutam mais bandas da cidade e a roda viva está mais viva do que nunca. E roda por cima de todos, acima de tudo; tudo o que é matéria, som, luz, portando sombra, silêncio e a ciência metafísico-imaginária vergonhosa do poder.

É tempo de crianças que ignoram toda a graça e possibilidades de um barbante ou de uma caixa de papelão, limitadas às imagens de ação dos video-games entre quatro paredes, até que desçam ao playground pré moldado num projeto ultra arquitetônico da mais pura falta de imaginação.

É tempo de se curvar ao chinês domesticado pela besta imperial de um socialismo de fachada, de entregar-se ao imperialismo social americano de Nevada e de chutar um animal atropelado moribundo na estrada.

É tempo de garotas de família ansiosas pelos títulos de putas da cidade e de putas titulares lesionadas pela idade e cafetões a quem respondem.

Há tempos não ouço falar de assassinos em série...
Não sei, honestamente, se devido à decadência ou ao sucesso de sua classe.

É tempo adolescente da internet ainda jovem, encabeçando a evolução da raça humana, seu saber e toda a interdependência da comunicação complexa entre idéias desconexas que surgem a todo instante no meu tempo.

Augusto, e agora?
Para onde vamos nesta fúria digital?

Na dúvida, entrego-me à beleza...

Me decapite a beleza...

Vou sonhar um mundo unido e tolerante após a curva,
Transformar a água turva em vinho tinto de poesia,
Ruminar apaixonado as mais sinceras elegias frente ao espelho
Até que o despertar do alvorecer num céu vermelho infle a flor de vossas testas.

Por entre espelhos flamejantes
Rodopiar como um vampiro,
Imortal,
Presas à mostra;

Abocanhar de uma só vez os sete pecados capitais,
Perdê-los em maus lençóis, e
Inventar novos;

De cara mergulhar na gota de chuva espessa marciana:
Uma capa invisível pendurada em minhas costas,
Duas santas afrodisíacas prosternadas a minha volta,
Três mazelas insuportáveis
E um carteado de cigana
Que à vontade o vento espalha em minha cama;

E pela carta cuja face exiba o maior sorriso
Serei guiado à ingratidão pela porta dos fundos,
Coberto de razão, sangue, ouro, imundice e
Sincretismo social intergalático;
Este último encontrado não por acaso
Embaixo de uma pedra.

Que há com a humanidade?

Hein?
Que há contigo?

É falta de carinho?
Vem cá, humanidade, deixa que te abrace!

E passo a mão na cabeça da humanidade e recebo em troca 2012 facadas no fígado;

Ah, humanidade,
Teu mal é esta vontade egoísta de ser;

Humanidade, Deus não te ajuda porque você é ridícula.


II


Pensam-se corajosos os covardes; simultaneamente, pensam-se covardes os corajosos....
Não sou um,
Nem outro,
Ou ambos!

Consideram-se salvadores os que invadem. Invasores os que salvam...
Não sou outro,
Nenhum,
Ou ambos!

A felicidade traz consigo o carma do pranto; a tristeza se incumbe de transformá-lo em dom...
Ou ambos!
Não um...
Nem sou outro!

Sou tudo aquilo que sei,

Meu nome é Ignorância...

Sou barco e meu porto inseguro;
Sou Baco e me porto futuro,
Sou fraco em refluxo,
Músculo atrofiado e
Minúsculo.


III

Sei do universo grandioso.
Poder congelar-se numa câmara criogênica!

Mas o medo do futuro, oh, o horror, o horro ro ro ro ror...!

O sucesso da revolução mental
Dependerá da intensidade de nossa crise...
E não tarda.
Afinal, que são poucoscentos anos na história humana?!
Ou trezentas gélidas noites sob céu aberto para a mendicância urbana?

O homem cansará de ser apenas o homem.

Certa noite tive um sonho gay, acordei e quis voltar a sonhar em segredo sem medo da escuridão de meu armário largo ao qual todos são bem vindos;

Durmo sempre nu e de janela aberta por mais que frio faça,
Amo o vento a me ninar,
Como mãe a me ninar...
O vento é o mundo a nos fazer carinho...

Se cai uma árvore no meio da floresta sem ninguém por perto,
Ninguém se machuca...

Sei disso pois como um tronco caio diariamente e nunca houve quem me amparasse - ao menos me machuco sozinho.
Lá vou eu novamente:

MADEEEEIRAAAA!!!

Penso que grito, mas por falta de ouvintes, não grito; nem faço barulho estatelando-me ao chão.
Certo dia caí sobre um ninho de cobras e lá quedei-me...

Até hoje o remorso me acompanha ao leito!

Odeio e amo tudo e todos menos que eu mesmo,

Exceto quando estou em frente ao espelho, então meu reflexo acusa o vazio do qual nasci cheio e toma conta indiferença...
Percebêreis meu latente narcisismo?
Qualquer dia desses me afogo no vidro do banheiro enquanto me barbeio...

Meu reflexo paulatinamente me provoca,
Vejo em seus olhos uma vontade madura de precipitar-se em minha direção, estilhaçar a superfície que nos separa, agarrar um caco de vidro espesso, enterrá-lo na própria garganta e ver jorrar meu sangue...
Já não sei mais de que lado do espelho me encontro,
Se sou eu,
Se o reflexo,
Se todo o paradigma desta solidão a dois,
Do encontro comigo de encontro a mim mesmo...

Meus olhos então suam, o corpo, se não, chora!


sábado, 2 de junho de 2012

prolegômenos à solidão

I
decidi deixar tu
(eu acho)

não me bastam os sonhos
essa tormenta que é acordar
toda noite
e não ter tu

não me bastam as vontades
transmutadas em tristeza
essa dor do dia
do coração frio
do estar amputado
inclusive de tu

me relaciono com tua distância
essa capacidade de não ter alguém
só tu
em minha saudade

II
teria feito tudo diferente se entendesse o que significavam aqueles carinhos, as nossas mãos, todas quatro, perdidas umas nas outras, nos (a)braços, costas, pernas, pelos, os olhos, tudo o que fica & morre no depois, porque tenho medo que tu voltes e, como costume, finjas que aconteceu nada, me lembrando, por isto mesmo, incessante, o quanto existiu

III
se me bastasse a lembrança
mas não basta e sou todo uma dor
me baste a memória e, então, te aceito, Solidão.
25.5.2012
4:35