sexta-feira, 23 de março de 2012

"Vocêu"

quero escrever-te uma carta para ver-te em palavras
representação
os olhos das palavras vêem o que a imagem não fala

sinto falta do teu cheiro cheirado pelo meu nariz
da tua voz ouvida pelo meu ouvido me olvido
da tua carne vista pelos meus olhos – ou sentida

a vida é a vista da vida (ou a vida à vista)
esse mundo reino castelo de areia & sangue
bordado na tua pele

sexta-feira, 16 de março de 2012

Partes Incompletas de um Todo

Qual a etiqueta da vida?

Devo dar-lhe bomdia, boatarde, boanoite?
aquiescer a suas vontades, rebelar-me contra os maus viveres?

Qual a etiqueta da vida?
Lavo-na à mão ou meto na máquina?

Qual o segredo da vida?
Conte-me o segredo da vida, que o guardarei melhor que não o fizeste!

Onde o sagrado da vida?

Tudo é sagrado, menos a vida!
Sagrado o orgulho, sagrada a mentira, sagrada a família,
Vergonhas, o cú do mundo, o cú domingo,
O cú dormindo, o acordado e o que pisca infatigável!

Sagrados os zumbis das universidades, a cura
Que não encontram na cannabis, na cerveja, nem nos companheiros de viagem sofrida
Sem quem lhe decepe a testa ou a tragédia lhe finde.

Da vida me alimento e de mim se alimenta a vida - tira pedaços -
Braço, perna e tantos corações quanto tiver um homem!
De que vale um homem sem coração?
De que valho, buraco no tórax, vendas nos olhos e esta maçã nos dentes?
Devaneios rotineiros fixam-se à retina!

Tombam as pálpebras.
   Tombam e quicam no "b" se estendendo às alturas
revelando beleza aos artistas que tentam e os que nem tentam fazer arte.

Cadê o mundo inteiro?
Sinto falta do mundo inteiro!
Vejo meu espelho em pedaços nas árvores, nuvens...
O mundo inteiro em pedaços!

Espelhem-se em mim as coisas do mundo, eu nelas também...

Para que o mundo em pedaços seja inteiro de novo, espelhado em mim!
Espalhado em mim e manteiga derretida...

quarta-feira, 14 de março de 2012

A Caminho de Oz

Lá vem ela, lá vem...
Lá vai ela, se foi....

Ó musas-desejo!
Sinceramente, devo confessar que não vos amamos!

Amamo-vos o andar, vossa coxas...
Amamo-vos o olhar, vossa boca...
Amamos ver-vos dançar, bossa rouca...

Amamo-vos ver-nos todos os dias
E como nos ignorastes
E nos provocastes a todos em volta

sagrado condor, caminho das naves,
engajados no horror que perdido nos trazes
sois desfacinação, objeto dos crentes em prontidão
a despeito daquilo que sentis!

Senta na poltrona e sente!
Pensa na tua história e sente!
Pensa na tua essência e sente!
Pensa até o pensar doente te inundar de autoconhecimento e dor e falta de esperança...

O tom do vento na janela é sempre crescente
búuuuuu
bluuuuuu
balooooon quica quica, vê só como o "b" quica?!

e pra onde vai esse vento?
pra onde eu vou nesse vento?

pra onde leva?

haverá gente...?


quinta-feira, 8 de março de 2012

DÊ CREScente

um milênio a fé perdoa

um século à toa, tênsil

a década cada toda

no ano tocado em sol

um mês e bemol é álcool

semanas, dois sustenidos

um dia munida a gente

a hora, granadas voam

minuto em que sua a pele

em segundos te visto nua

agora

de encontro ao tempo.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Filhote de Lua

Sinto-me asquerosa lagarta
Prestes a explodir de mim
Posto que em meu corpo já não caibo;
Não caibo neste corpo pequeno;
Ao hábito terreno, não caibo...!

Me livrarei
Não obstante a pele rasgue!

Jamais quis ser astronauta;
O sou por capricho genético, apenas...
Nu nasci no espaço sideral e
Traje espacial nunca me coube...

E embora hajam meus ouvidos suportado,
Os olhos estacionado, o sangue condensado,
Cá me encontro,
Perdido em vil potência e fantasia;

Para transbordar, faço poesia...

E quem lerá? E quero que quem lerá as leia?
Quão limitada a compreensão alheia...

Eu que de mim nada compreendo,
Sem nada, talvez, compreender serei cremado!

Peço que comigo queime este poema...
Se confundam nossas cinzas na urna que nos contenha!
Sejamos um, nova e finalmente.

Até lá, por mais cedo me espreite a data,
Por mais medo a morte invoque,
O deixo sob guarda do papel que lhe sustente,
Papel que me suporte.

No fim,
Seremos um, novamente,
Artista e arte...

sábado, 3 de março de 2012

I

tu me veio recorridas
vezes à cabeça
percorrendo o plasma
do meu corpo
que, vermelho-sangue
te lamenta
[meu eu-lírico é que te lamenta!]
tu continuas em mim
como se meu corpo
te sentisse o pelo
pelos poros que suo
ao escrever, pensando em tu
estes verbos mortos
estes versos novos
que a mim me foram dados
etcétera e tal
teu nome e teu hálito.