quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Soneto internado em terno


Eu recuso a tecnologia por tu.
E vou escrever estes verbos
na modernidade d'uma Olivetti
p'ra provar que sou sublime.

Que se eu ouso pensar em algo
senão tu, minha mente em flagelo
se põe a viver no instante agora
corpulento a vida depressiva.

E na entrelinha destes versos
nossas roupas esquecidas
se perdem pelas barracas

e em troca restam os pêlos
que são o futuro peticionado
p'ra deixar de ser engravatado.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

An Endless Adventure

Sights of you will make me gloom;
Freeze the blood inside my veins.
- So has started my decay -
Is my love for you too soon?

Deep into the forest of your eyes
Open arms will help me glide;
Sweet soft music as my guide,
Hence my fuel never dies.

To your vicious waterfall I'll row
Having goose bumps quite severe,
But I thrive when I'm in fear
And your soul will be my goal.

Should I tell you how I feel?
Should I lie and make it less?
I'm afraid I never will...
I'm afraid!
I'll never rest...

A Pira dos Hereges

À fogueira levado taciturno
Do jazigo que havia violado;
O que Nietzsche fechara de bom grado,
Do assassino cruel do bravo Bruno,

Seu orgulho maior que seu instinto
Inspirou-me a desafiar a morte;
À vida agradecer a minha sorte;
A louvar o sabor do vinho tinto.

Este fogo tão perto de meu peito
Me endireita a postura frente ao rosto
Do carrasco cujo laço me é posto;
Da mordaça à qual tenho direito.

E o povo em sorridente expectativa
Sem mente assiste ao circo tenebroso...
Qual seria a semente de seu gozo?
Da alegria em banhar-me de saliva?

domingo, 14 de agosto de 2011

lúdico


dia nasceu
noite morreu
a lua vira o sol

A Revolta de um Vencido

O silêncio me agrada:
Um pensar absoluto
faz-se tudo o que escuto
Numa voz já viciada.
-
Que combina com meu vulto,
Que não me incomoda em nada.
Soa bem na madrugada
E não me priva do insulto.
-
Caminhando ao seu encontro
Viajando em minha mente,
Que me engana, mas não mente,
Que contém tão belo monstro,
 -
Demoníaco e carente,
Que me tornou belo astro,
Que assina meu cadastro,
E me é fiel ouvinte
-
Fico sempre mais atento
Aos ruídos da cidade;
Aos mendigos ao relento.
 -
O homem ébrio, tão covarde,
Que ameaça aos quatro ventos
A vida da majestade.
 -
Por que tu antes não gritaste,
Ó cordeiro do sistema?
Antes quando do guindaste
 -
Tu pendias no dilema?
“Foi por medo da verdade;
Foi  vergonha desta cena”.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Apogeu da Volúpia

Em face ao ato
Me aguça o tato
E a pele encaixa.
Faz-se o toque
E o prazer me basta
Como a raiva ao rock.
-
Depois o cigarro, denso.
Por ser humano de vontade, penso.
Fumaça deslizando em curvas;
Firme forma feminina exausta.
A língua quente, suave, se arrasta
Suor e saliva são glória em mistura turva.
-
Peitos afoitos capturam o cheiro;
Bentos braços lhe sufocam o seio
No entrelace do furor alheio!
O amor, casmurro, não é mais feio.

Fabuloso Encontro

Correnteza de metal me leve.
Chacoalhe ferindo-me a pele
Ao olho espirográfico do engano
No delírio dos palhaços de pano.
-
Baco resta fraco e envergonhado
De seus filhos a quem pede mil abraços,
Perdidos no solstício do cansaço,
Apoiados nos joelhos do cajado.
-
No deserto de seus passos avistam uma lontra
Banhando-se na lama congelada do lago.
O mamífero lhes fala do cachimbo dando um trago:
-
Ó bípedes desgraçados, ouçam o carrasco que vos monta,
Pois somente aquele que se perde, um dia se encontra!
São doentes que me cedem a poesia; o faz-de-conta.

Saudade Consumada Por Verdades Consumidas

Ainda que não sejam amores, eternos,
Talvez por breves momentos ternos
Infinito ele se torne. Impresso na memória
Dos que deram vida a uma bela história.
-
No escuro do crepúsculo paira o medo
E não para de assombrar-me desde cedo
A lembrança, que não cansa e me enlouquece,
Pois amor é trauma e, por trauma, não se esquece.
-
Pode haver quem negue ou esconda o pranto,
Mas para sofrer de amor, amigos, lhes garanto:
É preciso amor conciso dos mais verdadeiros
Que lhe sirva de sonar por densos nevoeiros.

Ode aos Gigantes em Miniatura

Ignorância desta caixa emana;
De canalhas, cuja triste gana
Tudo o que é verdade colhe;
Mentiras sem pudores planta.
-
Sem vergonhas, o covarde sicofanta
Ao lúdico de um público mole,
Que tudo engole quando inflama,
Apela às belas iludidas pela fama.
-
Que o súdito de lama se lambuze.
Dentes tortos, catando o que não pude
Dos restos de intelectos tão podres;
De odores dos mais repugnantes.
-
Paladinos da notícia irrelevante
Por gigantes colocados nestas torres,
Reclusos em seus sonhos de grandeza
Na torpeza destes magos tão pedantes.
-
Levantai-vos, escravos da poltrona!
O mundo não está em vossa casa;
Vosso bairro, longe do horror de Gaza;
Só os bons vos oferecerão carona.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A cadeira do cursinho.

Estou sentado em uma cadeira.
Rodeado
por outras tantas pessoas,
entretidas em suas conversas.
Todas
querem ser notadas,
querem ser ricas,
querem ter poder
para decidirem o futuro de outras pessoas.
Querem ter dinheiro
para comprarem coisas "valiosas"
que, somente,
as farão mais infelizes.
Terão
a falsa impressão
de serem melhores
porque podem comprar
Lixo de alto valor monetário.
É tudo fútil
é  tudo sem sentido.
As  pessoas são tristes
e
Eu sou uma delas.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Teatro do Olimpo

Da rosa sinto a pena dos deuses
Pelo homem inerte e bobo,
Que canta e dança e chora
E que namora senhoras,
Por vezes Rosas,
Por vezes mortas e frias...
-
Se pudesse ser rosa, seria negra.
Se fosse negra, me chamaria Rosa,
Pois a rosa é sempre nova, na moda
Não sofre e, por sorte, não sangra.
-
És a meu ver a rosa de Atenas.
Que meu coração te sirva de palco,
Pois nele jamais sairias de cena;
Nele, que tuas algemas tomaram de assalto...
-
Não se movem nem amam as rosas;
Ou amam, mas amam calhordas!
Botões da natureza que em sua sina
Da eterna beleza fecham a cortina.
-
Pelo destino fui dado a ti, menina,
Que me exibe e me alucina,
Que me chama pra dançar,
Que me beija nas águas do mar;
-
Mar no qual rosas jamais poderiam nadar;
Num mar de rosas, és tu minha coda; meu par.

sábado, 6 de agosto de 2011

Ensaio sobre quando o tempo fica à margem


I
verbos que neste papel
em branco jazerão
busco em vocês a liberdade
que o pensamento
não me permite viver

II
várias foram as vezes que esbocei palavras a fim de me desenlouquecer, p’ra vomitar este verme que me estremece o corpo e dói nos dias que não passo ao teu lado, e nada (como haveria de ser!), mas persisto e a cada nova tentativa antiga procuro redigir sinfonicamente estes vocábulos p’ra te impressionar; por vezes os sustenidos podem soar estranhos, é que a estética do meu dizer é tão marginal que, por mais clássica, não a reconhecem; mas não te percas nas entrelinhas de um bemol

III
te sonharia caso pudesse pensar
em outra coisa senão tu

IV
minha voz desnuda muda o tom das palavras que te direi, subo uma escala p’ra dissertar que de nada valem as mentiras – se te quero é porque meu corpo te deseja!, sem aspas conduzindo à delicadeza vazia da palavra macia; mas não nego que enfeito o meu quarto com o teu perfume

V
eu não só te queria
eu te seria

VI
há tanto quero escrever uma carta p’ra você, evidenciando mentiras, dissertando sobre minha dieta de mau senso, sobre meu teórico suicídio amoroso; e esta está sendo a carta, porque desde quando você se tornou meu foco, ou, desde quando conversamos você virou poesia p’ra mim, você virou tudo porque desarrumou o aqui dentro e porque qualquer coisa era você; ai!, de quando descendo a rua, a ladeira que hoje é memória, voltei correndo em passos lentos p’ra casa, percebendo o verde do mato que tem naquela praça, o rosa da orquídea agarrada à árvore – imperceptível a olhos acostumados –, os degraus que eram todas aquelas ruas da distância que nos separava: poucas casas; a mentira do tio, da capoeira, do barbeiro, de tudo o que fosse p’ra me deixar mais tempo ao teu lado, como se o tempo pudesse resolver morrer (o tempo não morre, ele é no gerúndio, e a nossa proximidade se tornou abismo); inventei pseudônimos, sufoquei vários papeis de tantas palavras que precisavam ser ditas e inventei algumas, inventei momentos futuros, o passado, o eu p’ra te ter por perto: eu não era torcedor, contei verdades, mas falava de futebol p’ra parecer menino moleque; descobri que podia me sentir bem – precisava te ter ao meu lado –, descobri que o amor é uma coisa escrota, ironicamente, porque escrevendo agora escrevo pieguices, besteiras, e ainda sim tenho coragem de tatuá-las neste papel, por mais que eu possa jogar ele fora a qualquer instante; minto p’ra mim sempre p’ra não pensar em ti e gosto de pensar em ti, de forma que odeio pensar porque percebo que sempre sonho no que diz respeito ao teu nome, o teu nome que já não me arrepia mais, mas, ah!, se eu imaginar a tua voz, o teu cabelo liso e o teu carinho falando comigo, se eu lembrar de você real e não do que me representa você... e de como é difícil lembrar o teu cheiro, como dói; você que hoje não é senão retrato p’ra mim, você antes era o meu pensamento quando resolvia viver, você era o meu próprio eu; você me fez mau, eu não precisava de mais alguém – se você resolvesse viajar, eu nem levava roupas; você foi a paixão que quebrou tudo: eu não sabia mais estudar, eu não sabia mais ser amigo, eu não sabia mais ser filho; aliás, de tudo fazia p’ra te ver, nem que fosse passar em frente a tua casa, num caminho absolutamente burro, nem que fosse fazer os amigos passarem em frente a tua casa, p’ra ver se você estava por lá, nem que fosse pegar o pé de uma flauta doce (aquela parte pequena no final da flauta, sabe?) e uma flor amarela no chão suja, colocar esta dentro daquela, e sonhar a beleza do gesto de deixar na porta da tua casa, e eis que sonhando você chegou de carro com amigos, e eu sonhei mais um pouco pensando em destino – pensando em mentiras que desacredito; você era o assunto de qualquer hora, você era a hora p’ra qualquer assunto

VII
eu morreria junto com você sem pensar
em qualquer outra pessoa & eu ainda penso
na possibilidade de a gente fugir e deixar
o tempo, que é o futuro, à margem da nossa vida.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

em prosa

              O dia é 25 de agosto de 2008, ou 30 de junho de 1630, ou 20 de abril de 1287. O tempo não importa, o dia não importa, até mesmo o nome não importa. Não terei estilo, não terei linearidade. Apenas escreverei, farei isto para conhecer a mim mesmo, se é que, realmente, existo.
              A única razão para a existência deste livro, se é que isto pode ser considerado um livro, é a angustia e a necessidade que tenho de transferir pensamentos que não têm qualquer utilidade, mas insistem em instalarem-se na minha cabeça. Acho que em algum lugar, entre o bulbo e o cerebelo do meu cérebro, esses pensamentos tão excêntricos foram aterrados com concreto; e, dificilmente, irão a algum lugar enquanto eu existir, se é que eu, realmente, existo.
               Sou livre! Sou livre porque escrevo o que tenho vontade. Não quero escrever uma história, tampouco um poema. Ainda menos, quero ter qualquer profundidade filosófica. A que me importa quem foi Socrates? A minha liberdade consiste em escrever qualquer palavra, tenha ela sentido ou não. Posso até escrever palavrões. Existe melhor sonoridade do que a da palavra Buceta? Ah Buceta, Buceta e Buceta. Quem me dera se todas as palavras fossem como esta. Se o amor, ao invés de se chamar amor, se chamasse Buceta. Come seria lindo e, com certeza, muito menos melancólico. Porque não existe nada mais melancólico que a palavra Amor.
               Acalme-se meu leitor, não penso isto realmente. Se é que existe alguma pessoa perturbada o suficiente para estar lendo estas palavras. O amor é lindo e não existe nada mais sublime. No entanto, isso não quer dizer que o amor não pode ser melancólico. No final, eu ainda acho que a palavra Buceta é uma bela palavra.